quarta-feira, setembro 21, 2011

Introdução

Sejam bem-vindos!

Postarei nesse Blog algumas reflexões, pensamentos, devaneios e idéias.

Aqui não existe nenhum tema central, apenas escreverei sobre tudo que me der vontade.

Desde já, agradeço a todos que se interessarem em ler.

Todo e qualquer tipo de críticas, observações, intervenções e elogios serão muito bem recebidos.

Um abraço,

Rafael Morgan.

segunda-feira, março 29, 2010

Desculpe-me

Desculpe-me por ter usado e depois jogado fora. Não pude conter meus impulsos e, sem ti, não haveria outro modo de materializar nossos sonhos, torná-los concretos e tão belos.

Se rasguei tua alma, quebrei seus ossos, cortei-te a pele e esfarelei teu cerne até que nada mais restasse, não foi por simples egoísmo ou sadismo!

Apesar de tudo, deixou-me manipular-te sem reagir! Fez isso por heroísmo, ou simplesmente fostes incapaz de lutar, de livrar-te das garras deste habilidoso tirano?

Como sinto falta do tempo em que podia tocar-te sem que escorregasse por entre meus dedos trêmulos, quando ouvia com atenção tudo que tinha para dizer-te! Os sonhos que outrora sonhamos juntos, agora estão perdidos, despedaçados, divididos por cortes limpos e retos, porém vivos!

Tiveras seu uso, no entanto, custou-me muito pouco e sabes que ninguém há de dar valor ao que é barato, medíocre. Certamente, da próxima vez, buscarei mais qualidade, mais personalidade e sofisticação, mesmo que custe-me alguns tostões a mais.

Talvez ainda encontre salvação nas mãos de uma pessoa menor, menos habilidosa do que eu. Talvez vá para o lixo, apodrecer em algum lugar distante junto a outros incontáveis restos que desprezei, depois de sugar-lhes as mais preciosas essências.

Quem sabe decida usar-te por mais um tempo? Somente a mim pertence tua alma e se dela ainda sobra algum pó, cabe a mim decidir teu destino.

Não te sintas só, tampouco me odeie! Não tens esse direito! Mais virão depois de ti, incalculáveis mais e por vontade ou não, sacrificar-se-ão para viver a glória de servir fielmente meus desejos mais profundos e imprevisíveis!

Onde não havia nada, agora vives! Fragmentei tua existência, tornei-te onipresente e enquanto a Terra não arder nas chamas do juízo final, viverás! Entendes o valor de tal sacrifício?

Agora, que estás quase em teu fim, deita-te carinhosamente ao meu lado e vislumbre as maravilhas que através de mim podes criar! Suplico-te que entenda que salvei-te da inércia, não para dar-te a morte mas para abençoar-te com a vida eterna!

Se antes não valias nada, agora vales mais do que minha própria vida!

Repousa então em paz, sabendo que tua alma agora é eterna, embora de teu corpo, reste tão pouco. Perdoa-me, pois estou certo de que já não mais me tens como um simples cafajeste.

Dê logo seu último suspiro para que eu possa encarregar-me de teus restos! Não vês que tenho pressa? A ansiedade me consome a carne e, já que a ti não posso confiar o fim dessa nova obra, tenho que ir à luta, buscar uma nova e melhor versão de ti.

*Em memória do meu lápis Faber-Castel preto, 2B. 2009-2010.





terça-feira, janeiro 26, 2010

Solidão

Estava só, sentado rente ao balcão de madeira, do bar de sempre, preso entre a fumaça dos cigarros e a sinfonia estridente das gargalhadas alheias. Tentava prever o futuro nos reflexos espumados do fundo do copo de cerveja, que brilhavam mal sintonizados e rasgavam meus olhos a cada vez que eram interrompidos pelo som, não menos brilhante, da morte das bolas de sinuca. Morriam uma a uma, depois renasciam todas e morriam mortes diferentes, dançando ao som das probabilidades infinitas.d

Sem pedir licença, sentou-se ao meu lado, vestindo trajes negros e, de certa forma, inadequados ao local. Ofereceu-me um drink, que aceitei, depois de relutar por alguns milésimos de segundo.

Seus lábios, incrivelmente vermelhos, moviam-se lentamente, dançando calmos, enquanto contavam-me sua vida. Ouvi atento, como de habitual.

Não contavam casos comuns, daqueles que se ouve de entre os dentes de qualquer pessoa. Relatava delírios, tentava abrir meus olhos míopes, cantava aos poucos, em melodia simples, os poucos vestígios de verdade que moravam escondidos nas entranhas das barrigas gordas, nas rugas precoces das crianças envelhecidas.

Falou sobre a insegurança da última partícula de poeira refugiada nas juntas do armário mais alto. Mostrou que, na pequena rachadura no teto, no topo da pilastra desgastada, vivia uma aranha de pernas frágeis, uma delas fatalmente decepada, em um acidente além da imaginação.

Apontou para o velho cravo, cravado no canto da boca de uma mulher, que tinha o rosto feito de pedra. Fez com que eu observasse a velha moeda, aprisionada entre duas tábuas do piso de taco.

Mostrou-me o cano sujo, por onde podia-se ouvir as conversas das baratas e ratos, que por ali passariam quando as luzes se apagassem.

Vi a marca de aliança, que se rebaixava de tristeza entre as falanges inchadas do homem com cabelo de boneca. Senti o calor gelado que evaporava por entre as pernas da mulher mais exibida.

Examinei as marcas do desgastado cinto de couro, que de furo em furo, se alargaria até o fim. Senti a dor pesada do sapato velho, que sonhava inutilmente em, um dia, se tornar um chapéu. Sapatos não viram chapéis.

Os quadros tortos se equilibravam satisfeitos, orgulhosos por exibir dentro de si, fotografias de homens, a maioria já mortos, que também não faziam a menor questão de se alinhar. Eram apenas quadros?

Depois de ouvir todas as palavras e deslocar meus sentidos confusos à lugares ínfimos; Depois de me perder e me encontrar, diversas vezes, nos sabores íntimos da invisibilidade e descobrir todos os segredos e todas as possibilidades, olhei em seus olhos e disse:

-Sua presença não é, nunca foi e nunca será um mistério para mim. Todos os segredos, sob a mira sagaz do seu olhar, se tornam translúcidos, transparentes. Na sua presença, todas a mentiras, não tendo onde se esconder, se tornam verdades.

Solos operísticos, drinks vermelhos, batons alcoólicos, peles inadequadas. Bocas manchadas. É lá que você habita!

Em minha paixão eterna, regada a cerveja e observação, onde morre a angústia e nasce a devoção, você vive!

Em algum lugar, entre a santa excomungação e a amaldiçoada santificação, você prevalece!

Me transforme em pó, me reduza ao mínimo, para que eu possa morar junto às pulgas que picam o couro do menor passarinho e interromper, com meu dedo mindinho, o fluxo sangrento da agulha do pernilongo!

Me faz sempre pequeno e astuto, compre-me todas as escrituras dos cantos empoeirados, das pequenas rachaduras, do espaço entre as tábuas dos pisos de taco! More comigo em todos estes lugares ao mesmo tempo!

Faça isso que te peço e prometo te receber sempre, fiel e determinado! Morre e nasce em mim, meu eterno amor, minha companheira fiel, minha maravilhosa dama de negro!

Nunca permitirei que se sinta só, minha amada, minha maldita e abençoada, minha Solidão.

segunda-feira, outubro 19, 2009

Minhas camisetas pretas

Aqueles que me conhecem há muito tempo, que costumam me encontrar com freqüência perambulando pela noite de Belo Horizonte e que são suficientemente observadores, de vez em quando, me perguntam a razão de eu sempre usar preto.

É verdade, eu me sinto extremamente incomodado em usar outra cor e, quase invariavelmente, opto pela a ausência de todas as cores.

Fico meio incomodado também, por não ter uma resposta concreta para essa pergunta, então decidi escrever um pouco sobre isso para ver se, enquanto escrevo, chego a um veredicto.

Sou uma pessoa muito ligada à estética, não do ponto de vista narcisístico, mas do ponto em que admiro composições equilibradas e bem feitas, sejam elas simples ou complexas. Pensando desta maneira, posso dizer que uso preto porque, simplesmente, acho que combina com a noite, no entanto, ainda seria um motivo bobo e eu não sou uma pessoa de motivos bobos.

Posso dizer que uso roupas pretas porque sou supersticioso. O preto me passa um sensação de proteção, me faz me sentir menos vulnerável às energias maléficas que circulam nos ambientes noturnos e de bebedeira, onde quase todos os presentes estão, de certa maneira, disputando por alguma coisa mas somente alguns saem vitoriosos. Isso teria sim algum fundo de verdade mas ainda não é verdadeira razão de eu optar por sair descolorido de casa.

Talvez eu tenha adquirido esse comportamento porque é prático e barato. É só ir à loja, comprar algumas camisetas pretas e pronto, estou munido de uniformes noturnos pro ano inteiro...Será? Acho que não. Apesar de detestar sair para comprar roupas, quando saio, compro o que eu gosto, sem elaborar estratégia alguma, sem planejar nada.

Pode até parecer que eu estou brincando, mas não estou! Estou mesmo tentando descobrir os motivos dessa minha prática enquanto escrevo toda essa bobagem, a qual, por alguma razão, decidi tirar dos meus cadernos surrados e compartilhar com qualquer um que se interesse.

Sabem, pensando bem, no fundo, eu uso preto porque vivo em um estado de luto constante. A cada dia que passa, fico mais frustrado com as pessoas e seus comportamentos.

Já houve um tempo em que eu tinha muita fé nas pessoas, gostava da companhia delas, me divertia e compartilhava sua superficialidade, almejando alcançar os mesmos objetivos. Essa época passou.

Hoje, quando saio à noite, vestindo minhas camisetas pretas, é porque me sinto sozinho, velando corpos vivos com mentes mortas.

Todos sabem que o mundo atualmente passa por um momento crítico, no qual todas as decisões tomadas terão um impacto monstruoso, que a curto ou médio prazo, decidirão nada menos do que a sobrevivência do planeta como nós o conhecemos. Mesmo assim, as pessoas insistem em adiar suas decisões, empurrá-las para as gerações futuras, repetindo sem se cansar todos os erros das gerações passadas. Ninguém está disposto a abrir mão de nada, a mudar nada.

Se montarmos um gráfico, relacionando o número de mentes brilhantes que surgiram na história moderna, de forma cronológica, poderemos notar que a medida que o tempo passa, menos pessoas interessadas em explorar o máximo do intelecto em benefício de um bem maior vêm surgindo. Onde estão os grandes gênios do nosso tempo? O que eles estão fazendo? Será que estamos andando contra a evolução natural e emburrecendo? Ou será que o nosso modelo de sociedade, convenientemente, não tem estimulado seus membros a pensar?

O fato é que, assim como nossos pais, se tivermos a oportunidade de chegar à velhice, iremos nos perguntar:
- O que eu fiz de importante em minha vida além de trabalhar igual um escravo, ganhar algum dinheiro, construir algum patrimônio, consumir igual um porco, engordar de forma desordenada, ler dez toneladas de jornais repetitivos, ver milhões de horas de programas de televisão e repetir bilhões de vezes os poucos casos interessantes que aconteceram na juventude?

Infelizmente, se perguntarmos isso aos nosso pais, a grande maioria não terá uma resposta concisa para nos dar.

Pior do que isso é saber que, mesmo que esse erro venha sendo cometido há muitas gerações, os pais ainda criam suas crianças para se encaixar nesse velho modelo, para se tornarem uma extensão deles mesmos, numa tentativa idiota de tentar prolongar suas próprias vidas medíocres por toda a eternidade.

Acho que encontrei então o verdadeiro motivo de usar preto, que é mais triste do que eu pensava.

Uso preto sim, mas não porque me sinto dentro do velório de alguém, como disse antes. Para mim, a cor caiu em desuso. O velório ao qual me referia, não é o dos outros, e sim, o meu próprio.

Todos nós, que pensamos, que lutamos exaustivamente para promover a mudança, estamos condenados à extinção. Estou de luto por mim mesmo.

No final das contas, a cor da camiseta nunca importou...

Que valia tem a cor, quando ninguém pode enxergá-la?

Que valia tem a cor, quando ela própria deixa de existir?

Que valia tem a cor, quando não existe ninguém para compartilhá-la?

E que valor tem um pano sem cor, quando a própria alma já não possui cor alguma?

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terça-feira, setembro 29, 2009

Deletando a existência.

Um fenômeno muito comum, que tenho presenciado com frequência, é o do "deletamento" ilusório da existência dos outros.

Se um relacionamento, de qualquer natureza, não toma o rumo que se espera, ao invés de tentar resolver, dar um ponto final ao mesmo, entrar em um consenso através de toda nossa capacidade investigativa, a primeira coisa que fazemos é deletar a contra-parte de todos os nossos dispositivos de transferência tecnológicos.

Aparentemente, existe a ilusão de que, apagando determinada pessoa da agenda do celular, deletando todas suas mensagens de texto, excluindo-a de sua rede social favorita e de seu programa de comunicação instantânea, apaga-se literalmente essa pessoa, anula-se sua existência.

Na minha opinião, essa é uma atitude muito imatura mas, de certa forma, compreensível, se entendermos que ainda somos crianças, perdidas diante de toda essa revolução tecnológica. Pode até parecer que esse seja um caminho fácil e eficaz para apagar alguma parte da sua história, no entanto, sabemos que não é assim que as coisas funcionam.

Essa espécie de assassinato existencial, de fato, prejudica muito mais o assassino do que o assassinado.

Nosso inconsciente, de alguma maneira, em termos leigos, conhece a ineficácia desse tipo de transferência de responsabilidade e, acreditando ou não, ele reage. Como sei disso, sei também que uma das piores coisas que se pode fazer, em termos de danos psicológicos, é comprar uma briga com seu inconsciente.

Como dizia Jiddu Krishnamurti, esse tipo de atitude gera medo, por se ter certeza de que a outra pessoa ainda existe, independentemente de você querer ou não, o que faz com que esse indivíduo acabe por se apresentar como uma ameaça ao seu frágil equilíbrio mental. O medo, por sua vez, gera diversos outros conflitos que, por sua vez, não podem ser resolvidos por outro caminho que não seja o da investigação, auto-análise e meditação.

Quando me refiro à meditação, não estou me referindo ao seu sentido oriental ou esotérico. Me refiro à ela como o ápice da investigação psicológica do Eu, onde não existe mais a divisão entre o consciente e o inconsciente, onde pode-se julgar e analisar seus conflitos de forma una, holística.

Certa vez, Jean-Paul Sartre disse: "O Inferno são os outros".

Eu não quero me tornar o inferno de ninguém, apesar de saber que já ocupei essa posição algumas vezes. Prefiro conversar, dialetizar e chegar à alguma conclusão definitiva, para que eu possa preencher um lugar em meio às boas lembranças, aquelas que não se têm a vontade de apagar.

No entanto, se alguém, movido pela raiva, medo ou negação, resolver me apagar de sua vida, já aviso de uma vez que isso é impossível. Nem adianta tentar pois, aí sim, assumirei um cargo vitalício dentro de um de seus infernos particulares.

Como disse René Descartes: "Cogito, ergo sum". "Penso, logo existo".

Com base nisso, posso dizer que eu existo, existo muito. Se passei pela vida de alguém, se fiz alguns estragos ou se me transformei em boas memórias, não faz a menor diferença.

Se eu morrer, mesmo assim continuarei existindo na mente dos que ficaram.

Portanto, o único jeito de me apagar, deletar, é através de uma lobotomia, doença degenerativa ou suicídio e, mesmo assim, sabe-se lá... Talvez eu ainda persista.

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sexta-feira, setembro 25, 2009

Dois sapatos diferentes

Outro dia me deu vontade de usar dois sapatos diferentes, ou melhor, dois tênis.

Tomei um banho, coloquei uma roupa qualquer, abri meu armário e peguei um tênis de cada cor.

Apesar serem de cores diferentes, eram do mesmo modelo, afinal de contas, não queria andar manco por aí, no entanto, se eu quisesse andar manco ou descalço no meio de todo mundo, se me desse essa vontade, colocaria em prática sem pensar duas vezes.

Peguei o carro, sai da garagem e tomei meu rumo para um desses botecos quaisquer, que existem aos montes em Belo Horizonte.

Dirigi mais de meia hora até encontrar esse muquifo que, não sei por quais razões, me despertou a vontade de parar e sentar para tomar alguma coisa. O lugar tinha o nome de um pirata, desses famosos, que não me lembro agora.

Sentei em uma mesa perto da sinuca que, coinscidentemente, tinha quatro sapatas diferentes, uma em cada uma de suas quatro patas, que também eram diferentes entre si.

Observei os pés das cadeiras de aço, dessas que são comuns em botecos. Não havia nenhum pé, dentre às dezenas de pés de cadeira ali presentes, que fosse igual aos outros.

Nesse momento eu já estava meio desconfiado, achando que estava sonhando, ou coisa assim, e resolvi pedir uma cerveja, porque, se fosse sonho, iria me fazer sonhar melhor e sairia de graça.

Chamei o garçom.

Estava meio distraido, perdido em minhas divagações, quando ouvi o barulho do garçom chegando perto da minha mesa. Me virei para olhá-lo e levei um dos maiores sustos da minha vida!

O garçom era um pirata. Um de seus olhos era tapado, usava um chapéu de corsário em sua cabeça e, de sua face, brotava uma barba gigantesca. Em seu ombro, havia uma imitação de papagaio empalhado. Em uma de suas pernas usava uma bota preta que subia à altura do joelho, na outra, por mais incrível que pareça, usava uma perna de pau, não dessas de mentira, falsas. Uma perna de pau suja, velha e verdadeira.

Nos olhamos por alguns segundos e, como eu observava ainda assustado, os seus dois pés diferentes, ele, naturalmente, observou os meus, que também estavam vestidos diferentes.

O pirata então, fez um movimento estilo "deixa pra lá, cada um na sua" com os ombros, abriu a cerveja, encheu meu copo até a metade e já ia embora, quando me olhou e disse:

- Rapaz, as diferenças estão por aí, por todo lado.
Tem gente que enxerga algumas delas.
Tem gente que prefere fingir que não existem e se alienam, no mundo fechado dos seus condomínios de granfino.
Têm uns que acham que são diferentes e não são, outros, são diferentes e não percebem.
Existem também aqueles, que talvez sejam os mais comuns entre os diferentes, que são os diferentes recalcados, reprimidos, e que, apesar de ter consciência das suas peculiaridades, fazem de tudo para parecer normais. Esses são patéticos, são covardes, são a escória.
Eventualmente, encontra-se tipos como eu, que por um motivo maior, se tornaram primeiro diferentes por fora, para depois se tornarem diferentes por dentro.
O contrário também acontece, porque também existem pessoas que, são tão diferentes por dentro, que essa diferença transborda, de forma incontrolável, para o seu exterior. Esses são os mais perigosos, são os temidos loucos. São considerados loucos, não por que tem algum problema mental, o que ocasionalmente acontece. São vistos como loucos, perante a sociedade, porque, de alguma forma, sua diferença é tão incontrolável, indomável, que se transforma em uma ameaça à ordem confortavelmente estabelecida. Esses são os meus favoritos.

Em qual desses tipos você se encaixa, rapaz?

Depois de pensar por um ou dois segundos, eu respondi:

- Sou o diferente louco, porém inteligente. Inteligente, porque sou sagaz ao ponto de ser uma grande ameaça à ordem, porém, sei me vestir de inofensivo, de forma tão convincente, que me aproximo, sorrateiramente, das camadas mais sólidas e impenetráveis da sociedade e do inconsciente das pessoas, sem que ninguém perceba, sem acionar nenhum alarme.
Sou louco, porque lá, nesses lugares mais bem protegidos, planto a minha semente de loucura, depois saio, sento em meu camarote, acendo um cigarro, abro uma cerveja e, vitoriosamente, assisto o circo pegar fogo.
Sou o coringa do baralho. Sou o lobo em forma de cordeiro.

Os olhos, ou melhor, o olho do garçom pirata se arregalou. Virou-se e saiu mancando, conversando com seu papagaio falso, sem mover os lábios, como se fosse um ventríloco.

Terminei minha cerveja, paguei a conta e fui embora. Chegando em casa, liguei o computador, escrevi e enviei um e-mail, contendo uma das minhas sementinhas.

No outro dia, mais rápido do que esperava, a resposta estava lá, louca, em chamas. Então, sentado em minha cadeira, acendi um cigarro e abri uma cerveja. Vitorioso!

Quanto aos sapatos diferentes, não pretendo mais usá-los dessa forma. Percebi que chamam muita atenção e atrapalham meu disfarce. Usei só dessa vez, como experiência, porém, por debaixo dos meus sapatos comuns e discretos, que uso normalmente, visto e sempre vestirei, meus próprios pés, que serão sempre, embora de forma sutil, diferentes um do outro e dos milhões de outros pés, que pisoteiam e pisotearão o chão desse mundo, que é um só.

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quarta-feira, setembro 23, 2009

Eu era muito mais velho...Sou bem mais jovem agora.

Agora de manhã, ouvindo a música My Back Pages, do Bob Dylan, parei para pensar sobre o refrão, que diz o seguinte:

"Ah, but I was so much older then,
I'm younger than that now."

Nasci em 1983. Quando criança, adorava brincar com esses números. Sempre que alguém me perguntava, ou quando respondia algum questionário, eu tratava de dizer ou escrever 1893, com uma ironia latente que não é característica da idade pela qual passava biologicamente.

Conheci uma psicóloga, ou melhor dizendo, uma força da natureza, uma espécie de furacão, que me ensinou que devemos nos questionar sobre esse tipo de ação, que tudo tem um significado oculto no inconsciente.

Está certo, eu sempre soube disso, mas às vezes a gente se esquece, portanto é bom que alguém possa lembrar-nos de vez em quando de coisas tão importantes. Apesar de não ter certeza sobre até que ponto isso está correto, ou melhor, não tenho certeza de nada, adotei essa prática na minha vida com mais seriedade, pelo menos por enquanto.

Nessa determinada época da minha infância, realmente me sentia velho. Não sabia porque, mas me sentia de certa forma senil e esclerosado, apesar de ser uma criança.

Será que os valores, códigos morais e sociais, parâmetros e tradições velhas, que são jogados e enfiados dentro da mente jovem e limpa de uma criança podem torna-la velha, antiga?

Obviamente isso é um paradoxo que, apesar de ser imensurável e intangível, é altamente provável.

Comparando-se a mente de uma criança, para fins analíticos, com uma garrafa, um recipiente que ainda não foi totalmente preenchido, podemos ver claramente a possibilidade de que, dentro desse frasco, possa ser derramado um líquido, um fluido, que no momento seja mais conveniente para os pais ou para a sociedade, concordam?

O que seria então uma garrafa nova, preenchida por um líquido velho, passado? Nada mais do que uma grande contradição, uma farça, uma propaganda enganosa. Sabemos que a garrafa tem seu papel pois, cognitivamente, a vemos e julgamos primeiramente. Julgamos a qualidade do liquido pela estética e pelas sensações que nos são passadas através garrafa, em conjunto com os rótulos e outros artifícios puramente estéticos e publicitários.

Sabemos, no entanto, que o importante, o relevante, é o líquido.

Perdoem-me por fazer uma análise comparativa tão superficial. Foi o que me pareceu mais conveniente no momento.

Será possível que eu, lá para os meus 5 ou 6 anos de idade, quando dizia ironicamente ter nascido em 1893, estava apenas manifestando a percepção desse processo?

Sei que, tentando reviver a época, na medida do possível, lembro-me de uma sensação de desconforto, do princípio do descobrimento da sensação de revolta, que me acompanhou durante muitos anos, talvez me acompanhe até hoje.

Seria possível então fazermos o processo inverso, quero dizer, tornarmo-nos mais jovens ao longo dos anos? Creio que sim. Assim como disse Bob Dylan, eu me sinto bem mais jovem agora.

Não digo que seja um processo fácil, muito pelo contrário.

Já até me adianto e digo a vocês que tudo que é fácil, é ilusório, superficial e passageiro.

Para atingir um objetivo real, genuíno, temos que persistir arduamente. Temos que, permitam-me que me aproprie, momentaneamente, desse provérbio popular, dar murro em pontas de faca, até a mão calejar e a faca sair perdendo no final.

Às vezes é complicado distinguir os pensamentos e ideais que são genuinamente nossos, dos que fomos condicionados e, naturalmente, tomamos inconscientemente como nossos ao longo do tempo.

Praticando incessantemente o exercício de pensar sobre cada um dos nos atos, palavras e idéias formadas, podemos gradativamente perceber quais são os paradígmas, conceitos e preconceitos que nos foram impostos e, percebendo isso, podemos verdadeiramente escolher entre descartá-los ou não.

Não acredito que, após perceber isso, alguém ainda queira viver os pensamentos antigos, ideais mortos e conceitos não mais aplicáveis de gerações passadas, não acha?

Estou me reinventando, me redescobrindo. Estou trocando todo o lixo por coisas novas.

Talvez agora eu possa resgatar a criatividade, a pureza e a espontaneidade que foram roubadas da minha infância e, ao invés de dizer que nasci em 1893, dizer que nasci em 2003 ou 2004.


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terça-feira, setembro 22, 2009

A escova de dentes e o artista

Não preciso falar mas falo mesmo assim, que o espírito de todo artista é grande demais.

Tudo para nós parece ser maior do que realmente é. Ou será que tudo para nós é do tamanho exato que precisamos que seja?

Uma escova de dentes rosa, pousada dentro de uma xícara azul no movelzinho do meu banheiro verde não é só uma escova de dentes. Se estivesse lá sozinha, poderia ser só mais uma escova de dentes sim, mas não, ela está lá, bem ao lado da minha, que é roxa.

Hoje, enquanto repetia pela milionésima vez a cena patética de fazer a barba, que por sinal, parece que quanto mais eu faço mais cresce, olhei lá, por segundos que pareceram horas, aquela maldita escova de dentes.

Uma escova de dentes era pra ser só uma escova de dentes. Vamos na farmácia e vemos diversas delas, estáticas, tristes, esperando por um dono, por um significado.

Pode ser que uma pessoa compre uma para pentear as sobrancelhas, outra para engraxar os sapatos, outra para limpar alguma sujeira difícil em algum outro lugar. Pode ser até que alguém compre uma escova de dentes para pintar algum quadro, respingar gotinhas de tinta em uma tela ou papel. Elas funcionam muito bem para isso.

A maioria das pessoas compra para escovar, esfregar e polir os dentes, claro, ou não se chamaria escova de dentes.

Neste caso específico, comprei um pacote de três, uma de cada cor, simplesmente para não faltar quando eu precisar de outra. Faltar... Palavra dura que só aparece quando te falta alguma coisa mesmo.

Por motivo de amor, a graciosa escova de dentes rosa foi parar nas mãos, ou melhor, na boca de outra pessoa, que é também, absolutamente graciosa. Parece que as duas foram feitas uma para outra.

Amor... Quem não é artista não conhece o amor. O amor de um artista é esmagador, destruidor, queima, arde, consome o corpo e vira a alma ao avesso. Poderia escrever quilômetros sobre o amor.

Hoje cedo, aquela escova de dentes ainda estava lá, parada, imóvel e sem vida. Sua mestra partiu para explorar outros mundos, viver a vida de outros modos e não quis que a minha escova de dentes roxa fosse com ela.

Ainda acho que dentro do meu banheiro verde, as duas escovinhas de dente, rosa e roxa, dentro da xícara de cerâmica azul, se completavam e, de maneira misteriosa, murmuravam segredos e confidências uma à outra.

Mas tudo bem, digo para mim mesmo. Da próxima vez tentarei uma outra cor. Talvez um amarelo ou vermelho, para formar uma paleta de cores menos fria.

Enquanto isso, agora, a graciosa, porém solitária escova de dentes rosa está sendo velada, numa cerimônia fúnebre triste, negra. Juntar-se-á a um punhado de outros objetos simples e bobos que, pelos meus olhos de artista, ganharam vida além da própria vida.

Um dia, quando atingir a velhice, juntarei todas essas coisas e objetos e farei um quadro. Um quadro que respirará e ganhará vida própria, que aprisionará todos os significados, símbolos e arquétipos do mundo em uma coisa só.

Então a minha querida e velha amiga, a Morte, quando vier me visitar, olhará para essa obra e me dirá, olhando profundamente dentro dos meus olhos velhos e cansados: - Meu caro, você viveu!

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Clareza e o vazio

Tenho vocação para psicólogo, para ouvinte. Parece que, naturalmente, meus amigos se dirigem a mim sempre que têm algum problema, algum conflito para resolver.

Não sou lá muito qualificado mas se posso ajudar, simplesmente sou sincero e exponho minha opinião. Este é um dos papéis de um amigo, não é verdade?

Há poucos dias atrás, um amigo, que está passando por um fase difícil, cheia de conflitos de objetivos me confessou que entrou para a Igreja Evangélica, buscando soluções para seus dilemas.

Por mais que esse amigo seja uma pessoa culta, que tem um alta capacidade de discernimento, já pude sentir aquele fervor característico em sua fala e olhar.

Sabemos que estas instituições aproveitam de momentos frágeis para executar sua espécie de lavagem ideológica. Já vi isso acontecer muitas vezes, tanto com empregadas domésticas quanto com executivos.

Rapidamente mudei o tom da conversa e fiz um alerta:

- Cuidado!

As pessoas vêm cometendo o mesmo erro há milhares de anos. Você não acha mais lúcido que se busque uma religião, um relacionamento ou qualquer outro tipo de liderança em um momento de extrema clareza, ao invés de buscar em um momento de conflito e dúvida?

Não seria muito mais conciso ao se buscar um Deus, que não O busque para resolver seus conflitos e problemas, mas que O busque em um momento de clareza, não por carência ou desespero, mas por pura determinação, para que Ele possa mostrar-lhe a beleza oculta contida no milagre da vida?

Veja bem, todos nós temos nossas neuroses, conflitos internos e dúvidas. São fatores intrínsecos ao Eu e ninguém pode resolver esses problemas melhor do que nós mesmos.

Não parece muito fácil e, de certa forma ridículo, que se repasse estas questões tão pessoais para outro "resolver"? É fácil, é errado e ineficaz.

Não quero dizer que todo mundo consegue solucionar seus próprios dilemas. Esse é um processo que tem que ser praticado ao longo da vida e exige muito esforço intelectual e psicológico. Para quem não se sente apto, o melhor é procurar um psicólogo. Tenho minhas dúvidas em relação à psicanálise mas sem dúvida alguma, o psicólogo é mais qualificado do que o pastor.

Na maior parte das vezes, nem sequer sabemos quais são nossos conflitos internos, portanto, torna-se impossível resolvê-los. Tudo que sentimos é um tremendo vazio, ao qual buscamos preencher de diversas formas.

Qualquer maneira de tapar esses buracos, que venha de fora para dentro, vai ser eficaz somente por um breve período de tempo.

Muitas vezes, quando se trata de relacionamento, podemos perceber que, na necessidade de preencher essa carência, esse vazio, as pessoas refletem no parceiro tudo que consideram importante, criando uma imagem falsa do outro, quase como se fosse um rito de idolatria.

Considero essa atitude um ato de extremo egoísmo pois o sujeito, ao invés de buscar compartilhar as felicidades, trocar, apresenta uma atitude totalmente unilateral, a qual nem pode ser qualificada como um relacionamento propriamente dito. Isso pode acontecer simultaneamente dos dois lados, ambos focados na satisfação pessoal e no egoísmo.

Isso nada mais é do que solidão acompanhada.

Já pude observar vários casais que estão juntos há bastante tempo e que mal se conhecem. Isso é muito comum e, na minha opinião, é um dos sintomas mais graves dessa sociedade doente.

É mais comum ainda vermos pessoas tentarem preencher esse vácuo interno através do consumismo, diversão e trabalho. Falarei depois sobre o que acontece com essas pessoas a longo prazo.

Um bom começo é perceber que existe esse vazio, assumir que ele está relacionado a fatores internos, do Eu, e tentar de forma inteligente e racional entendê-los e, quem sabe, resolvê-los.

Não estou dizendo que a vida fica mais fácil depois que se propõe entendê-la, pode ser que fique até mais difícil, mas sem dúvida é muito melhor enxergar a vida do jeito que ela é, de forma real, com objetivos reais, do que viver em um mundo falso, torto e repleto de fantasias inatingíveis ou pior, fantasias e sonhos impostos por outros.


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segunda-feira, setembro 21, 2009

O Vagabundo.

Filósofos são vagabundos. Teóricos são vagabundos. Artistas são vagabundos.

Produtivo é quem faz, quem move a máquina. O executivo é um exemplo a ser seguido por todos. Ele segue as ordens que recebe sem pestanejar, trabalha 12 horas por dia e mal tem tempo para dormir.

O militar também faz parte da nata da sociedade. Ele vai para guerra, mata e joga bombas sem questionar.

O engenheiro então é um primor! Constrói máquinas lindas que poluem o planeta, devoram nossos recursos naturais e além disso, projetam fuzis, mísseis e bombas. Isso sim é produtividade!

Os políticos, principalmente, são a personificação de Deus na terra! Como eu amo os políticos por produzirem tantas leis inúteis e que não funcionam! Como eu sinto adoração por eles por construirem castelos com meus impostos!

Não posso esquecer dos advogados e juízes! Que exemplo de integridade, honestidade e caráter! Fico pasmo de ver a velocidade do sistema judiciário! Fico impressionado em ver como acham brechas na constituição para inocentar assassinos, traficantes e banqueiros!

O professor então, nem se fala! Como eles são flexíveis e criativos! A habilidade deles em nunca se atualizar e criar novas teorias é impressionante! Eles são os portadores da verdade absoluta, praticamente santidades!

E os médicos? Nossa, são quase anjos! Vestem-se de branco, tratam pessoas como se fossem bonecos, perdem a sensibilidade em relação ao sofrimento alheio! Tratam o fígado, destroem o rim. Tratam o coração, destroem o estômago. Que maestria! Que visão vanguardista e holística! É muito inteligente dividir um sistema orgânico que funciona em sincronia total e absoluta, em várias partes individuais!

Newton era um vagabundo. Passava o dia sentado na sombra, pensado em coisas inúteis e sem sentido. Descobriu a lei da gravidade e mais um punhado de outras leis que mudaram o jeito que vemos o mundo para sempre. Sem ele, não haveria toda essa coisa inútil de cálculo diferencial e integral.

Albert Einstein é outro exemplo. Que vagabundo! Escreveu tantos números e letras "non sense" que descobriu a teoria da relatividade, a qual ainda nem tivemos condições de aplicar! Descobriu também o movimento browniano, o efeito fotoelétrico e mais um monte de besteira.

O Stephen Hawking então, fica sentado parado naquela cadeira o dia todo, só pensando. Foi forçado por problemas de saúde mas não deixa de ser um legítimo e autêntico vagabundo. Descobriu um monte de coisas ridículas, como a cosmologia teórica, os teoremas da singularidade e propôs leis mecânicas para os buracos negros.

E os gregos? Esses são os piores de todos! Sócrates, Platão, Aristóteles. Os camaradas não faziam nada o dia todo, curtiam o ócio. Totalmente dispensáveis na história da humanidade, não acham?

Mozart, Beethoven, Bach passavam o dia tocando e escrevendo música. Que mau exemplo! Proíbam seus filhos de ouvi-los! Muito cuidado!

Monet, Van Gogh, Picasso, Dali. A lista continua, repleta de vagabundos que não sabiam fazer mais nada além de pintar. Inúteis! Devemos banir seus nomes dos livros de história!

Meus caros, até eu que aqui estou, escrevendo essa bobagem sou um dos maiores vagabundos. Passo o dia inteiro pensando em coisas inúteis. Amor, compaixão, solidariedade, princípios. Ouço música o dia todo. Passo a maior parte do dia criando, desenhando, dando vida a coisas mortas.

Como me sinto desgraçado e inútil em ser esse vagabundo. Como é ruim não precisar trabalhar 12 horas todo dia. Como é ruim não ter que bater ponto. Como é ruim poder fazer tudo que eu quiser, na hora que eu quiser. Como é ruim ter tempo para pensar sobre quem eu sou.

É péssimo ter tempo para resolver meus conflitos, adquirir conhecimento e sabedoria.

Acho que vocês deveriam vir até a minha casa e me matar, antes que eu contamine a sociedade com toda essa inutilidade!

Vocês engenheiros, advogados, médicos, políticos e publicitários se entorpecem em sua sensação falsa de produtividade e de importância perante a sociedade. Mal sabem, que tudo que produziram e produzirão não tem valor algum e vai para debaixo da terra, junto do seu corpo sem vida, para apodrecer.

Nós, os vagabundos, que pensamos e produzimos conhecimento, somos eternizados. Nos estudaram, nos estudam e nos estudarão por todas as gerações que ainda estão por vir. Nossos pensamentos e idéias ecoarão para sempre, muito depois da nossa morte.

Se fosse para banir para sempre algumas pessoas da Terra, meus amigos altamente produtivos e respeitosos, a quem vocês baniriam? Baniriam os vagabundos ou vocês mesmos?

Checkmate.

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O mágico e o cético (Ouro Preto).

Na mesma ocasião descrita no post anterior, no Festival de Jazz de Ouro Preto, tive uma reflexão rápida durante uma conversa com um amigo.

No meio de um papo clássico, pretensioso e de certa forma patético, de fim de noite, discutindo crenças, ciência e até a presença de vida fora do planeta, fiz uma pergunta a esse amigo, que se diz cético.

Perguntei a ele:

- Se te falasse que sou um grande mágico, você acreditaria?

Ele prontamente disse que não.

Perguntei então:

- Porque não meu amigo? Já me conhece há tantos anos e nunca percebeu que sou um mágico?

Ele então respondeu:

- Eu nunca te vi fazendo nenhuma mágica!

Dei uma gargalhada e respondi:

- Claro que não! Você é cético!
Me conhecendo há muitos anos, sabe que sou um mágico, que vejo a vida com olhos de criança e acho encanto em tudo. Vivo para criar, capturo idéias no ar e as materializo no mundo real de várias formas.

Transformo o ar em arte, o intangível em coisas. Isso para mim é o mesmo que transmutar chumbo em ouro, ou seja, inexplicável, informulável, puramente mágico.

A mágica trabalha com o invisível, não com visível e o óbvio.

O cético sempre sai perdendo, por que busca razão em tudo, e o lado mais bonito da vida está contido nas coisas simples, porém sem explicação.

O ceticismo é incompatível com a evolução intelectual e científica. A maior parte da tecnologia que nos cerca, se fosse transportada para um século atrás, seria considerada coisa do capeta, coisa impossível.

É impossível para os céticos, criar o novo, enxergar além do óbvio!

Um brinde aos céticos! Se não fossem vocês, minha vida seria um tédio!


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Comparativo de espécies (Ouro Preto)

Este final de semana, fui dar um olhada no Festival Tudo é Jazz, em Ouro Preto, acompanhado de dois grandes amigos.

A música estava excelente, o evento muito bem organizado. Estava muito quente mas a chuva fez bem seu papel em nos refrescar, banir os desinteressados e ,como diz minha amiga Luisa, os "micareteiros cult".

Numa dessas horas em que a gente se deixa perder nesse tipo de lugar e, dizendo de passagem, Ouro Preto é um lugar ótimo para se perder, fui parar numa dessas repúblicas. O lugar, como de costume nestas ocasiões, estava abarrotado de gente.

O cheiro de bebida barata e cigarro era intoxicante. Fiquei lá, como de costume, parado, observando analiticamente o comportamento das pessoas.

Voltei minha atenção para um grupo, que se divertia brincando com um cachorro, ironicamente chamado Satan.

Fiquei pensando em como deve ser se sentir explorado por um intelecto superior, enquanto atiravam uma garrafa plástica para o cachorro pegar e trazer de volta, repetidamente.

Na verdade, na minha condição de humano não sei se o cachorro se sente explorado de alguma forma, se tem conhecimento dessa exploração e manipulação ou, se tiver em algum nível consciente a noção disso, se sente angustiado de alguma forma.

Talvez ele saiba disso mas dentro da sua histeria, motivada pela vontade agoniante de pegar e devolver a garrafa, simplesmente não consiga resistir.

O ponto chave disto tudo é que, em um determinado momento, me identifiquei muito com o cachorro e consegui fazer um paralelo entre comportamento dele e o da nossa espécie.

Tenho a nítida sensação que Deus, a vida, uma força, ou como queira chamar, joga garrafas pra gente o tempo todo, metaforicamente, é claro.

Vivemos em expectativa constante, em um estado quase histérico.

Corremos atrás da garrafa jogada (que pode ser substituída pelo que achar conveniente) e não nos dando por satisfeitos, a trazemos de volta, esperando que joguem novamente. Atingimos um objetivo e logo queremos outro. Assim continua, até o momento da morte.

Será que esse é um comportamento natural ou fomos condicionados, pela sociedade ou pelo que quer que seja, a agirmos dessa maneira, assim como o cachorro foi condicionado a pegar a garrafa?

Pessoalmente, acho que não é da nossa natureza pois inevitavelmente, esse comportamento gera conflitos, que por sua vez geram as "doenças" sociais presentes no comum.

Quem é que não se sente angustiado por ter sempre a "obrigação" de buscar alguma coisa? Por correr atrás de alguma coisa sem saber ou até mesmo, sem se perguntar, se existe algum motivo concreto em buscar atingir determinado objetivo?

Sabemos que a garrafa não é um objetivo almejado pelo cachorro e sim, um objetivo imposto por outro, não é verdade? O cachorro não escolheu ter que pegar a garrafa sempre que a mesma for arremessada. Esta foi uma escolha do seu mestre, concordam?

Quais então serão nossos objetivos? Será que da pra interromper esse ciclo, tentar distinguir quais são os objetivos impostos pela socidade e, partindo disso, descobrir os nossos próprios?

É muito comum vermos pessoas que param de perseguir garrafas e, no entanto, constroem sua própria fábrica de garrafas, mais macias, saborosas, confortáveis e se dão por satisfeitas. Com o perdão da palavra, considero essa atitude totalmente idiota.

No mesmo dia, já com o céu claro, fui para a fazenda onde dormiria. Chegando lá, ao ver um filhotinho de cachorro que pedia por atenção, o peguei no colo, fiz algum carinho e o devolvi ao chão. Haja ironia...

Sé sei, meu caro, que sou sempre eu, só eu, no final.


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