segunda-feira, setembro 21, 2009

Comparativo de espécies (Ouro Preto)

Este final de semana, fui dar um olhada no Festival Tudo é Jazz, em Ouro Preto, acompanhado de dois grandes amigos.

A música estava excelente, o evento muito bem organizado. Estava muito quente mas a chuva fez bem seu papel em nos refrescar, banir os desinteressados e ,como diz minha amiga Luisa, os "micareteiros cult".

Numa dessas horas em que a gente se deixa perder nesse tipo de lugar e, dizendo de passagem, Ouro Preto é um lugar ótimo para se perder, fui parar numa dessas repúblicas. O lugar, como de costume nestas ocasiões, estava abarrotado de gente.

O cheiro de bebida barata e cigarro era intoxicante. Fiquei lá, como de costume, parado, observando analiticamente o comportamento das pessoas.

Voltei minha atenção para um grupo, que se divertia brincando com um cachorro, ironicamente chamado Satan.

Fiquei pensando em como deve ser se sentir explorado por um intelecto superior, enquanto atiravam uma garrafa plástica para o cachorro pegar e trazer de volta, repetidamente.

Na verdade, na minha condição de humano não sei se o cachorro se sente explorado de alguma forma, se tem conhecimento dessa exploração e manipulação ou, se tiver em algum nível consciente a noção disso, se sente angustiado de alguma forma.

Talvez ele saiba disso mas dentro da sua histeria, motivada pela vontade agoniante de pegar e devolver a garrafa, simplesmente não consiga resistir.

O ponto chave disto tudo é que, em um determinado momento, me identifiquei muito com o cachorro e consegui fazer um paralelo entre comportamento dele e o da nossa espécie.

Tenho a nítida sensação que Deus, a vida, uma força, ou como queira chamar, joga garrafas pra gente o tempo todo, metaforicamente, é claro.

Vivemos em expectativa constante, em um estado quase histérico.

Corremos atrás da garrafa jogada (que pode ser substituída pelo que achar conveniente) e não nos dando por satisfeitos, a trazemos de volta, esperando que joguem novamente. Atingimos um objetivo e logo queremos outro. Assim continua, até o momento da morte.

Será que esse é um comportamento natural ou fomos condicionados, pela sociedade ou pelo que quer que seja, a agirmos dessa maneira, assim como o cachorro foi condicionado a pegar a garrafa?

Pessoalmente, acho que não é da nossa natureza pois inevitavelmente, esse comportamento gera conflitos, que por sua vez geram as "doenças" sociais presentes no comum.

Quem é que não se sente angustiado por ter sempre a "obrigação" de buscar alguma coisa? Por correr atrás de alguma coisa sem saber ou até mesmo, sem se perguntar, se existe algum motivo concreto em buscar atingir determinado objetivo?

Sabemos que a garrafa não é um objetivo almejado pelo cachorro e sim, um objetivo imposto por outro, não é verdade? O cachorro não escolheu ter que pegar a garrafa sempre que a mesma for arremessada. Esta foi uma escolha do seu mestre, concordam?

Quais então serão nossos objetivos? Será que da pra interromper esse ciclo, tentar distinguir quais são os objetivos impostos pela socidade e, partindo disso, descobrir os nossos próprios?

É muito comum vermos pessoas que param de perseguir garrafas e, no entanto, constroem sua própria fábrica de garrafas, mais macias, saborosas, confortáveis e se dão por satisfeitas. Com o perdão da palavra, considero essa atitude totalmente idiota.

No mesmo dia, já com o céu claro, fui para a fazenda onde dormiria. Chegando lá, ao ver um filhotinho de cachorro que pedia por atenção, o peguei no colo, fiz algum carinho e o devolvi ao chão. Haja ironia...

Sé sei, meu caro, que sou sempre eu, só eu, no final.


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