quarta-feira, setembro 23, 2009

Eu era muito mais velho...Sou bem mais jovem agora.

Agora de manhã, ouvindo a música My Back Pages, do Bob Dylan, parei para pensar sobre o refrão, que diz o seguinte:

"Ah, but I was so much older then,
I'm younger than that now."

Nasci em 1983. Quando criança, adorava brincar com esses números. Sempre que alguém me perguntava, ou quando respondia algum questionário, eu tratava de dizer ou escrever 1893, com uma ironia latente que não é característica da idade pela qual passava biologicamente.

Conheci uma psicóloga, ou melhor dizendo, uma força da natureza, uma espécie de furacão, que me ensinou que devemos nos questionar sobre esse tipo de ação, que tudo tem um significado oculto no inconsciente.

Está certo, eu sempre soube disso, mas às vezes a gente se esquece, portanto é bom que alguém possa lembrar-nos de vez em quando de coisas tão importantes. Apesar de não ter certeza sobre até que ponto isso está correto, ou melhor, não tenho certeza de nada, adotei essa prática na minha vida com mais seriedade, pelo menos por enquanto.

Nessa determinada época da minha infância, realmente me sentia velho. Não sabia porque, mas me sentia de certa forma senil e esclerosado, apesar de ser uma criança.

Será que os valores, códigos morais e sociais, parâmetros e tradições velhas, que são jogados e enfiados dentro da mente jovem e limpa de uma criança podem torna-la velha, antiga?

Obviamente isso é um paradoxo que, apesar de ser imensurável e intangível, é altamente provável.

Comparando-se a mente de uma criança, para fins analíticos, com uma garrafa, um recipiente que ainda não foi totalmente preenchido, podemos ver claramente a possibilidade de que, dentro desse frasco, possa ser derramado um líquido, um fluido, que no momento seja mais conveniente para os pais ou para a sociedade, concordam?

O que seria então uma garrafa nova, preenchida por um líquido velho, passado? Nada mais do que uma grande contradição, uma farça, uma propaganda enganosa. Sabemos que a garrafa tem seu papel pois, cognitivamente, a vemos e julgamos primeiramente. Julgamos a qualidade do liquido pela estética e pelas sensações que nos são passadas através garrafa, em conjunto com os rótulos e outros artifícios puramente estéticos e publicitários.

Sabemos, no entanto, que o importante, o relevante, é o líquido.

Perdoem-me por fazer uma análise comparativa tão superficial. Foi o que me pareceu mais conveniente no momento.

Será possível que eu, lá para os meus 5 ou 6 anos de idade, quando dizia ironicamente ter nascido em 1893, estava apenas manifestando a percepção desse processo?

Sei que, tentando reviver a época, na medida do possível, lembro-me de uma sensação de desconforto, do princípio do descobrimento da sensação de revolta, que me acompanhou durante muitos anos, talvez me acompanhe até hoje.

Seria possível então fazermos o processo inverso, quero dizer, tornarmo-nos mais jovens ao longo dos anos? Creio que sim. Assim como disse Bob Dylan, eu me sinto bem mais jovem agora.

Não digo que seja um processo fácil, muito pelo contrário.

Já até me adianto e digo a vocês que tudo que é fácil, é ilusório, superficial e passageiro.

Para atingir um objetivo real, genuíno, temos que persistir arduamente. Temos que, permitam-me que me aproprie, momentaneamente, desse provérbio popular, dar murro em pontas de faca, até a mão calejar e a faca sair perdendo no final.

Às vezes é complicado distinguir os pensamentos e ideais que são genuinamente nossos, dos que fomos condicionados e, naturalmente, tomamos inconscientemente como nossos ao longo do tempo.

Praticando incessantemente o exercício de pensar sobre cada um dos nos atos, palavras e idéias formadas, podemos gradativamente perceber quais são os paradígmas, conceitos e preconceitos que nos foram impostos e, percebendo isso, podemos verdadeiramente escolher entre descartá-los ou não.

Não acredito que, após perceber isso, alguém ainda queira viver os pensamentos antigos, ideais mortos e conceitos não mais aplicáveis de gerações passadas, não acha?

Estou me reinventando, me redescobrindo. Estou trocando todo o lixo por coisas novas.

Talvez agora eu possa resgatar a criatividade, a pureza e a espontaneidade que foram roubadas da minha infância e, ao invés de dizer que nasci em 1893, dizer que nasci em 2003 ou 2004.


Copyright © Rafael Morgan. All rights reserved. Todos os direitos reservados.

Um comentário:

  1. Pra mim, quando penso na existência do espírito fica mais fácil decifrar pessoas como vc, rafa. Dizem tb que meu espírito é bem velho. Não duvido não. Quando eu era criança costumava dizer que nós seres humanos éramos peças de xadrez e que deus estava jogando com as nossas vidas. Considero essa frase muito madura pra idade que eu tinha.

    ResponderExcluir